quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Por que sou intolerante


Os valores da ética têm que ser universais, intemporais, racionalmente fundamentados e facilmente distinguíveis nas suas características principais.

Vivemos num tempo em que temos necessariamente que ser intolerantes. Não nos podemos esquecer que foi devido à tolerância dada em relação ao regime nazi por parte das elites políticas das décadas de 20 e 30 do século passado, que se deu o a II Guerra Mundial e o Holocausto Nazi. E foi devido à tolerância concedida em relação ao golpe-de-estado de Outubro de 1917 na Rússia que aconteceram os Gulag e uma série infindável de atrocidades e crimes contra a humanidade.

Porém, naquele tempo a opinião pública e publicada era ainda muito débil; pelo contrário, hoje já não temos a desculpa de nos escudarmos por detrás das elites, política e outras: temos voz própria e maior acesso à informação. “Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar” (Padre Fanhais).

A necessidade da intolerância tem que ser, contudo, racionalmente fundamentada, ou seja, temos que saber (ou ter consciência) por que somos intolerantes em relação a certas ideias e comportamentos, e não propriamente em relação a pessoas entendidas como tal. Pode acontecer que em função da nossa intolerância racionalmente fundamentada em relação a determinadas ideias, algumas pessoas venham também a ser alvo da nossa intolerância por defenderem as ideias que não toleramos: mas aqui não se trata de um problema de discriminação directa de pessoas, mas antes de uma discriminação indirecta que resulta da necessidade de destrinçar claramente as ideias que são objecto da minha intolerância racional.

Para fundamentar racionalmente a minha intolerância em relação a determinadas ideias, eu devo tentar sempre seguir a lógica. Não se trata, da minha parte, de uma fé ou crença cega segundo a qual eu afirmo a minha certeza quando sigo o imperativo da minha intolerância: trata-se antes de seguir a lógica ou — reduzindo a minha posição à crença que todos os seres humanos têm, cada um à sua maneira — de seguir uma fé racional na procura da verdade (ou uma crença racionalmente fundamentada); ou seja, não se trata de obedecer a uma certeza, mas de procurar a verdade e de a reconhecer quando fundamentada na razão.

Não posso tolerar que alguém me diga, por exemplo, que 1 + 1 = 1367 somente porque alegadamente devemos tolerar quem pensa de forma diferente, mesmo que de forma errada. Parece-me lógico que 1+1=2,  ou seja, que esta hipótese aritmética ou teoria está errada; e por isso, não há objectivamente nenhuma razão para a tolerar, e aqui a intolerância não só é legítima como é mesmo necessária para evitar que o erro alastre e assuma a forma de uma verdade que não existe como tal (como aconteceu, por exemplo e em circunstâncias infaustas, em 1933, na Alemanha).






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