Os valores da ética têm que ser
universais, intemporais, racionalmente fundamentados e facilmente
distinguíveis nas suas características principais.
Vivemos num tempo em que temos
necessariamente que ser intolerantes. Não nos podemos esquecer que
foi devido à tolerância dada em relação ao regime nazi por parte
das elites políticas das décadas de 20 e 30 do século passado, que
se deu o a II Guerra Mundial e o Holocausto Nazi. E foi devido à
tolerância concedida em relação ao golpe-de-estado de Outubro de
1917 na Rússia que aconteceram os Gulag e uma série infindável de
atrocidades e crimes contra a humanidade.
Porém, naquele tempo a opinião
pública e publicada era ainda muito débil; pelo contrário, hoje já
não temos a desculpa de nos escudarmos por detrás das elites,
política e outras: temos voz própria e maior acesso à informação.
“Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar” (Padre Fanhais).
A necessidade da intolerância tem que
ser, contudo, racionalmente fundamentada, ou seja, temos que saber (ou ter consciência) por que somos intolerantes em relação a certas ideias e
comportamentos, e não propriamente em relação a pessoas entendidas
como tal. Pode acontecer que em função da nossa intolerância
racionalmente fundamentada em relação a determinadas ideias,
algumas pessoas venham também a ser alvo da nossa intolerância por
defenderem as ideias que não toleramos: mas aqui não se trata de um
problema de discriminação directa de pessoas, mas antes de uma
discriminação indirecta que resulta da necessidade de destrinçar
claramente as ideias que são objecto da minha intolerância
racional.
Para fundamentar racionalmente a minha
intolerância em relação a determinadas ideias, eu devo tentar
sempre seguir a lógica. Não se trata, da minha parte, de uma fé ou
crença cega segundo a qual eu afirmo a minha certeza quando sigo o
imperativo da minha intolerância: trata-se antes de seguir a lógica
ou — reduzindo a minha posição à crença que todos os seres
humanos têm, cada um à sua maneira — de seguir uma fé racional
na procura da verdade (ou uma crença racionalmente fundamentada); ou
seja, não se trata de obedecer a uma certeza, mas de procurar a
verdade e de a reconhecer quando fundamentada na razão.
Não posso tolerar que alguém me diga,
por exemplo, que 1 + 1 = 1367 somente porque alegadamente devemos tolerar
quem pensa de forma diferente, mesmo que de forma errada. Parece-me
lógico que 1+1=2, ou seja, que esta hipótese aritmética ou teoria está errada;
e por isso, não há objectivamente nenhuma razão para a tolerar, e
aqui a intolerância não só é legítima como é mesmo necessária
para evitar que o erro alastre e assuma a forma de uma verdade que
não existe como tal (como aconteceu, por exemplo e em circunstâncias
infaustas, em 1933, na Alemanha).
Nos tempos que correm ter ideias próprias é quase subversão!
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