O que é que isto significa, trocado em
miúdos? O que Hume quer dizer é que cada homem tem a sua razão, e
todas as razões individuais, entendidas como tal (individualmente)
são igualmente válidas. Porém, e por outro lado, essa razão é
irracional porque está submetida ao instinto (as "paixões") de cada homem.
Temos, em suma, que para Hume, a “razão
irracional” que faz tender cada homem para a sua “inclinação
predominante” e subjectiva, é a única forma de racionalidade. Ou
seja, para Hume, a razão é sinónimo de irracionalidade.
Compreenderam? Eu também não!
O facto de quem lê este postal ter
compreendido Hume, ou não, é absolutamente irrelevante, porque é
este conceito de “razão irracional”, segundo Hume, que se impõe
actualmente, e cada vez mais, como válido no direito positivo e na
ética política. E a razão por que isto está a acontecer prende-se
com uma espécie de obsessão obstinada e radical em cortar os laços
epistemológicos e culturais com o passado — ou seja:
“Aquilo que valia antigamente tem que ser forçosamente erradicado, nem que tenhamos que transformar o ser humano em um macaco!”
E “aquilo que valia antigamente” são os valores da ética que nos chegam dos gregos (Aristóteles, estóicos e neoplatónicos) e também dos teóricos do Cristianismo (principalmente Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino e Leibniz).
Hoje, uma pessoa que tenha uma noção
minimalista da história da filosofia moral e política — e
independentemente de essa pessoa ter 30 ou 70 anos — não pode
sentir-se bem. Não se trata aqui do facto de tal pessoa se sentir confrontada
com ideias novas de uma nova geração: trata-se, antes, de sentir o
incómodo natural de quem tem que forçosa e coercivamente validar
racionalmente o absurdo — a contradição deixou de ser
contraditória.
O conceito de Hume de “razão
irracional” está presente, actualmente, na criação pulverizadora
de novos “direitos” humanos. E como a “inclinação
predominante” do sujeito (segundo Hume) define a razão em si
mesma, segue-se que o comportamento do sujeito, qualquer que seja
esse comportamento, passa potencialmente a ser um “direito humano”.
O único critério que define o
“direito humano” — assim entendido em função da “razão
irracional” de Hume — é político e existe em função da lei do
mais forte (a lei ou direito positivo que se afastou totalmente da
lei natural, e que submeteu literalmente a norma ao facto), por um
lado, e depende do esforço das elites em fazer “progredir” a
opinião pública dentro do espírito radical do corte epistemológico
com o passado e com a cultura antropológica e intelectual herdada
pela merda da civilização ocidental, por outro lado.
O “progresso da opinião pública”
já levou a que fosse aceitável o “casamento” entre gays; agora,
o próximo passo no “progresso da opinião pública” é fazer
com que esta “progrida” no sentido de aceitar a adopção de
crianças por duplas de avantesmas e a aceitação da pedofilia. O
“progresso” é hoje entendido como o primado da validação
absoluta do conceito de “razão irracional”, segundo Hume.
Não acabe com o blog. É muito bom.
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